A incerteza é melhor que a certeza

tio gegeca (rogerio)
6 min readMay 20, 2024
Esboço do autor, que mostra como, mesmo inconscientemente, tentamos ordenar uma composição.

Nenhum título capta a essência deste dilema. Como podemos avançar no conhecimento quando não temos uma compreensão de questões fundamentais? Como podemos discutir qualquer coisa se não conseguimos compreender as coisas simples que fazemos diariamente? A base da nossa compreensão está enraizada na incerteza, que pode levar a oportunidades, criatividade e expansão. Não saber pode ser um motivador poderoso para exploração e descoberta. Nos campos criativos, a incerteza muitas vezes desperta novas ideias. Artistas, escritores, músicos, assim como designers e arquitetos, frequentemente iniciam um processo que muda à medida que trabalham. Este processo reflete o desejo humano de descobrir significado através da exploração e da expressão.

Na ciência, a incerteza também é uma parte importante do progresso. Ele impulsiona o desenvolvimento de novas teorias e tecnologias. Aceitar a incerteza leva a uma mente mais aberta e curiosa. Sócrates nos lembra que a verdadeira sabedoria reside em reconhecer a nossa ignorância. Cada resposta leva a mais perguntas, abrindo novas possibilidades de exploração. Isto é mais do que apenas encontrar respostas; trata-se de expandir o que sabemos e podemos imaginar. Nesta perspectiva, a incerteza não é apenas uma lacuna no nosso conhecimento, mas uma ponte para perspectivas futuras, promovendo flexibilidade, adaptação e inovação. É um aspecto fundamental da condição humana e da busca pelo conhecimento em todas as esferas da existência.

Por que não desafiar discussões intelectuais complexas quando conceitos fundamentais (como matéria, espaço ou causalidade) não são totalmente compreendidos e estão sujeitos a interpretação e debate? Muitas ideias na ciência são difíceis de compreender, mas são importantes para a aprendizagem e o progresso. Por exemplo, a natureza da matéria ainda é um mistério, tornando o conceito de causalidade complexo e contestado. As escolas de pensamento estão tão divididas hoje como estavam no passado, sem consenso sobre a essência da causalidade. David Hume argumentou que a causalidade não é um fenômeno observável, mas sim um hábito mental formado por experiências repetidas, uma expectativa ou “sentimento na mente”, em vez de uma característica inerente da realidade. Immanuel Kant e Bertrand Russell ecoam esses sentimentos, criticando as leis causais como relíquias filosóficas. Esta perspectiva sugere que o que percebemos como causalidade é moldado pelas nossas estruturas mentais e não pela realidade objectiva.

Na arquitetura e no desenho urbano prevalece um determinismo positivista semelhante, assumindo a causalidade como uma realidade objetiva. Isto ignora a natureza subjetiva e consciente dos processos de design. Assim como a ciência opera por meio de convenções, observações e julgamentos humanos, o design também independe de certezas comprováveis. Ciência é um empreendimento profundamente enraizado na consciência humana, refletindo o contexto e os valores culturais. As metodologias científicas e de design requerem julgamentos fundamentados, não um determinismo mecânico. Reconhecendo isto, deveríamos abraçar a incerteza e as fases conceptuais preliminares do design, reconhecendo que ambos os campos são inerentemente humanos e subjetivos. Essa abordagem permite uma prática mais flexível, adaptativa e, em última análise, mais centrada no ser humano.

Em situações práticas, os cientistas e engenheiros utilizam frequentemente métodos heurísticos para tomar decisões rápidas e eficazes quando confrontados com dificuldades complexas do mundo real, onde uma abordagem de levantamentos e comprovações exaustivas podem ser impraticáveis ou impossíveis. Embora as heurísticas levem a visões e avanços, elas também são reconhecidas por suas limitações — elas não são infalíveis e podem levar a erros ou preconceitos. No entanto, a sua força reside na sua capacidade de fornecer um meio prático para o avanço do conhecimento e a tomada de decisões sob condições de incerteza e informação incompleta.

Na arquitetura e no design urbano, muitas questões e métodos permanecem complexos, semelhantes aos desafios da astrofísica, da mecânica quântica ou da neurociência. Por exemplo, considere se o universo se expande alongando-se ou criando espaço. As evidências esmagadoras apoiam a expansão do universo, mas o mecanismo — seja ampliando o espaço existente ou criando um novo espaço — ainda é debatido. Esta questão cosmológica está ligada ao planejamento urbano. Possivelmente, o universo se expande ampliando o próprio espaço, e não criando um novo espaço como a matéria ou a energia. Este raciocínio pode ser aplicado à densidade urbana, sugerindo que o aumento da urbanização por adensamento através da tecnologia pode criar “novos” espaços urbanos sem expansão física. Por exemplo, alguém que resolve problemas bancários num quarto de hotel no 40º andar do outro lado do mundo, sem ir a lugar algum, apenas usando o aplicativo bancário do seu smartphone, ilustra como a tecnologia pode criar novos espaços urbanos sem criar mais área numa cidade.

O conceito de espaço se tornando “menos denso” ou “mais abstrato” à medida que o universo se expande é intrigante, mas é importante esclarecer o que queremos dizer com “espaço” em cosmologia. O espaço, na relatividade geral, não é uma substância ou material, mas o “tecido” tridimensional no qual objetos e forças existem e interagem. A expansão do universo refere-se ao aumento da distância entre objetos não limitados pela gravidade, não adicionando mais “coisas” ao universo, mas mudando a métrica que define as distâncias. Isto pode estar relacionado com a urbanização, onde espaços urbanos densos podem ser considerados cheios de mais e mais possibilidades, tal como um vácuo no espaço.

No caso mais simples de um universo não vazio com um único ponto de massa, o espaço é curvado conforme a geometria de Schwarzschild. A introdução da rotação resulta em uma métrica Kerr mais complexa. A analogia com as leis de Kepler enfatiza como as trajetórias das partículas são ditadas pela geometria subjacente, seja na mecânica clássica ou na relatividade geral. O conceito motriz de Kepler desde o século XVI era que as estruturas microscópicas poderiam comportar-se semelhantemente às estruturas observáveis ​​no espaço exterior.

A ciência e a filosofia esforçam-se ambas por compreender o mundo, mas operam em domínios diferentes, por vezes sobrepostos. A ciência fornece explicações baseadas em evidências atuais, enquanto a filosofia aborda questões mais profundas e abstratas que a ciência expõe, mas nem sempre resolve. Essa interação torna a busca pelo conhecimento desafiadora e evolutiva. A incerteza conduz o processo de design muito melhor do que uma busca mecanicista direta pela verdade estabelecida.

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