tio gegeca (rogerio)
6 min readMar 13, 2024

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Da Simplicidade à Complexidade: A Arquitetura Evolutiva do Planejamento

Rabisco do Autor, em uma margem de página de seu caderno de anotações, de uma truta imaginária, que começou como um peixe qualquer, e ao longo de alguns dias, permitiu a adição de complexidades, que permitissem a identificação de uma truta. O desenho complexo contém o desenho simples.

A teoria da evolução é frequentemente citada como o alicerce explicativo para uma vasta gama de fenômenos, postulando que a evolução decorre, invariavelmente, da adaptação. Assim, surge a noção de que a adaptação favorece caminhos de menor resistência e simplicidade, sugerindo que a humanidade tende a evoluir por meio da escolha das alternativas mais fáceis. Esta perspectiva se complica com a ideia de que se deve buscar estar mais preparado para enfrentar o futuro, uma postura que aparentemente não se alinha diretamente com a simples adaptação para sobrevivência. Esta preparação, argumentam alguns, pode ser mais importante do que a escolha das opções mais vantajosas. Tal postura introduz um paradoxo: se a tendência natural é optar pelo mais fácil, por que indivíduos investiriam em preparação, uma estratégia que, à primeira vista, parece contradizer a busca pela simplicidade? Este questionamento serve como ponto de partida para um exame mais aprofundado sobre a interação entre evolução, adaptação, e a complexa dinâmica das escolhas humanas. A base da teoria da evolução por seleção natural, proposta por Charles Darwin, sugere que os organismos mais aptos ao seu ambiente têm maiores chances de sobreviver e reproduzir, passando suas características para as próximas gerações. Essa aptidão é frequentemente o resultado de adaptações ao ambiente.

A ideia de que a adaptação pode se guiar por uma busca pela simplicidade e por evitar dificuldades ou alguma oposição é interessante, mas a adaptação é, em essência, sobre ser mais eficaz na sobrevivência e reprodução, o que nem sempre se alinha com o que é mais simples. Às vezes, adaptações podem parecer complexas, como o desenvolvimento de cérebros maiores em humanos, configuradas ao longo de uma longa cadeia evolutiva. Isto, não seria considerado escolha mais simples, apesar de ter oferecido vantagens significativas em termos de sobrevivência e capacidade de manipulação do ambiente. A “aptidão” em termos evolutivos não se refere à simplicidade ou à facilidade, mas sim à capacidade de um organismo de sobreviver e reproduzir no seu ambiente. Em alguns casos, isso pode significar desenvolver soluções complexas para problemas complexos, que em uma cadeia evolutiva, irão simplificar as próximas escolhas. Quando se fala em humanos e suas escolhas, a situação se torna especialmente mais complexa. A cultura, a sociedade e a tecnologia desempenham papéis enormes na determinação do que é considerado “fácil” ou “desejável”, e esses fatores podem mudar rapidamente, muito mais rápido do que as mudanças genéticas evolutivas. A ideia de que a humanidade evolui para escolher o “mais fácil” pode ser vista sob a luz da economia comportamental, que sugere que as pessoas muitas vezes tomam atalhos cognitivos e fazem escolhas que minimizam o esforço mental ou físico. Porém, isso não abrange todo o espectro do comportamento humano ou evolutivo. Sobre a preparação para a adaptação, é possível argumentar que a capacidade de se preparar para futuros desafios é, em si, uma forma de adaptação. Ser capaz de antecipar e se preparar para potenciais problemas pode ser uma estratégia evolutivamente vantajosa, mesmo que isso exija um investimento inicial de recursos ou esforço que pareça contrário à busca por simplicidade ou facilidade. Portanto, a questão não é necessariamente sobre simplicidade versus complexidade, ou facilidade versus dificuldade, mas sobre como diferentes estratégias podem servir a diferentes necessidades ou objetivos em diferentes contextos. A preparação e a capacidade de antecipar desafios podem ser vistas como recursos valiosos que, no longo prazo, permitem a adaptação e a sobrevivência em um ambiente em constante mudança, mesmo que essas estratégias pareçam complicar as coisas a curto prazo.

A preparação para futuras adversidades ou oportunidades pode não parecer diretamente ligada à adaptação imediata para sobreviver, mas pode ser vista como uma forma de adaptação antecipatória. Ao se prepararem, os indivíduos podem estar se adaptando a um ambiente futuro, que seja relativamente previsível. Isto seria uma estratégia de planejamento que pode aumentar a aptidão ao longo do tempo. Isso pode envolver a aprendizagem de novas habilidades, acumulação de recursos, ou outras formas de investimento que têm custos imediatos, mas potenciais benefícios futuros.

Portanto, a aparente incoerência de querer estar apto como uma complicação desnecessária ignora que a preparação e a aptidão podem ser vantajosas em ambientes que estão constantemente mudando. Em tais ambientes, a capacidade de se adaptar rapidamente a novas circunstâncias ou desafios pode ser mais crítica para a sobrevivência do que a tendência a escolher a opção mais fácil no momento. A evolução não é sobre buscar a simplicidade por si, mas sobre eficácia na sobrevivência e reprodução, o que pode exigir complexidade e preparação antecipada em alguns contextos.

A discussão transcende a mera análise de simplicidade versus complexidade, sobretudo, iluminando a indispensabilidade do planejamento. Para os que trabalham com planejamento, ele emerge não apenas como uma ferramenta profissional crítica, mas como um microcosmo da evolução individual — um reflexo da nossa habilidade em antecipar e moldar o futuro. Este processo, muitas vezes intrincado e desafiador, ressoa com a essência da adaptação evolutiva: a capacidade de prever, preparar e prosperar frente às incertezas. De modo que, mesmo que a busca por soluções imediatas e simples possa parecer inerente à nossa natureza, é a complexidade do planejamento que, paradoxalmente, nos equipa melhor, isto é, nos torna mais aptos para navegar no ambiente em constante evolução que nos rodeia. Em essência, o planejamento, por exemplo, no campo da arquitetura e do planejamento urbano, transcende a sua aplicação profissional, tornando-se um pilar para o crescimento e evolução individual. O planejamento não é apenas como uma competência técnica, mas um imperativo evolutivo. Cada vez mais, hoje em dia, a preparação para o planejamento equipa-nos com uma certa aptidão para antecipar o futuro. Mas, note-se que esta adaptação em planejamento pressupõe muita flexibilidade justamente para se estar apto à adaptação, reforçando a noção de que, em um mundo complexo, a capacidade de planejar complexamente não é um luxo, mas uma necessidade evolutiva.

No contexto das atuações profissionais que requerem aptidão em planejamento, ele não apenas antecipa os desafios e necessidades futuras, mas também incorpora uma visão que o tempo presente com uma perspectiva do passado até o futuro. Este processo, embora complexo e desafiador, é uma manifestação direta da capacidade humana de preparar-se para o futuro, refletindo a adaptação antecipatória. Para tanto é preciso considerar variáveis múltiplas, um exemplo de complexidade, que se reflete numa necessidade de soluções inovadoras e sustentáveis, que respondam às demandas em constante evolução da sociedade. Longe de ser uma incoerência, o esforço para estar preparado, caracterizado pelo planejamento meticuloso e pela antecipação de desafios, destaca-se como uma estratégia evolutivamente vantajosa.

Portanto, vemos que a busca por simplicidade não exclui a complexidade; ao contrário, elas coexistem, cada uma alimentando a outra, numa dança contínua que impulsiona a inovação e o desenvolvimento humano. Desta forma, o planejamento não apenas reflete nossa capacidade de adaptar e evoluir, mas também reforça a ideia de que a preparação cuidadosa e a antecipação de futuros desafios são essenciais para nossa evolução contínua, tanto individual quanto coletivamente.

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